domingo, 5 de dezembro de 2010

A inocência das manhãs

Algumas pessoas preferem a noite, ao contrário, prefiro a o comecinho do dia. Essa aurora do hoje, sempre me atraiu muito. Gosto de ver as primeiras pessoas passando na rua. Ou mesmo, de ver a rua vazia, sem barulho, ao tempo em que já não está mais escuro. Gosto de ver os tons que se somam e se subtraem da mistura e separação entre dia e noite. As manhãs são mais bonitas.
Se o poeta Casemiro de Abreu compara a aurora com a infância, eu não vou discordar. Talvez por esse ar de pureza das manhãs que sempre parece prenunciar um dia bom, o que, infelizmente, nem sempre concretiza-se. Vejo nas manhãs, que agora não vejo, porque me dedico a escrever esse textinho em um quarto escuro, a inocência de quem não sabe o que virá, de quem calmamente vai deixar acontecer.
O amanhecer é um começo. Se o dia anterior foi doloroso, no amanhecer seguinte a dor pode estar mais tenra. Para mim, a coragem gosta das manhãs, pois elas parecem ter feito um pacto e uma precede a outra. Motivos não faltam pra gostar das manhãs. Para muito, o escuro que abraça os romances dá à noite o título de preferida dos casais. Porém, as manhãs são dos trabalhadores que saem de casa, das mães que acordam cedo para arrumar o lar, são de quem começa cedo a viver. Porque dormindo não sei se é um estado de iminência para a vida ou de iminente morte.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Enquanto posso.

Estou há três meses de encerrar o meu contrato do estágio na redação do jornal. Confesso: cheguei aqui mais otimista, porém mais burra. Não que uma coisa contrarie a outra. Nesses oito meses, conheci muita gente, de jeitos distintos para ver a realidade, com maneiras diferentes de levar a profissão. Porém, avalio que ainda não aprendi o suficiente, mas sei muito mais do fazer jornalístico do que imaginava. Oito meses de prática superaram os dois anos de teoria. É que, no jornalismo, sua avaliação é feita por personagens, fontes, editores, secretários de redação e, principalmente, por leitores.

No dia em que soube da aprovação para a vaga dei pulos de alegria. Não podia me conter. Em meus primeiros passos, ao trancos e barrancos houve muita imprecisão, faltava firmeza, mas estava movida pela vontade de crescer. E, um imenso movimento se deu desde fevereiro até aqui, outubro. Foi uma educadora que entrevistei, Mary Arapiraca, quem me moveu a pensar em processos como movimentos. Por isso chamo toda essa etapa de um mover. Cheguei aqui com duas lições importantes que daria a qualquer pessoas que botasse os pés numa redação pela primeira vez hoje: primeiro, as aspas podem salvar um jornalista e, segundo, ainda que fonte esteja maltratanto criancinhas, ou sendo relapsa nos cuidados, ela terá a cara de pau de procurar seu chefe para se defender por medo de uma matéria, que vai denunciar todo descompromisso dela com a profissão que escolheu.

Lições de uma foca


Quando se chega a uma redação de um jornal de grande circulação - digo, grande em tese, pequena a considerar o potencial número de leitores - vários mitos são desconstruídos. Você poderá se perguntar: cadê os velhos jornalistas? O cheiro de cigarro? As mulheres que abdicaram de serem mães e esposas?. Numa redação tem gente que conta piada boba, tem jornalista que tem que levar o filho ao médico. Tem gente de vinte poucos anos na edição.

No jornalismo há espaço para a diversidade e se não for assim, não é bom jornalismo. Não há espaço para obscuridade, nem mentiras, nem para imprecisões. O jornalismo é lugar em que a realidade recebe - ao menos eu penso assim - recorte exato, preciso, claro, direto, dinâmico, com comprovação. O jornalista precisa ser confiável e confiante. Precisa despertar para isso. Estou só no começo, há muito caminho para andar, há muita estrada a seguir, há muitas lições a serem compreendidas e há muita vida a ser vivida, lida e divulgada.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

É o que dá ouvir música boa...

Porque você apareceu e fez uma bagunça por aqui. Derrubou certezas e agora é dono de escombros de moralidades. Não tem o direito de ir embora do terreno, sem ajudar a ser reconstruída toda casa amarela de flores na cerca, quintal largo e cheiro de amaciante de roupas. Não tem o direito de não ver surgir o novo, se pelo velho já era apaixonado.

sábado, 25 de setembro de 2010

Aqui não é a Liberdade, não!

-Redação, Karina.
- Oi, eu sou “um cara preconceituoso”.
- Sim.
- Eu queria reclamar que na minha rua, na Pituba, uma empresa coloca um microfone bem alto na boca de um palhaço ...
- O que o senhor quis dizer com palhaço, exatamente?
- Um locutor … E , olha, Karina, ainda por cima ele bota pagode, parece que aqui é a Liberdade.
- Como assim, senhor?
- Essas músicas... de bairro bem ruim, entende?

Essa conversa entre eu e “um cara preconceituoso” que mora na Pituba e sabe que lá não é a Liberdade, se deu hoje (25 de setembro) pela manhã quando estava a trabalho e por isso mesmo não fiz a pergunta que ficou engolida: mas e daí? Ossos do ofício. Tive que engolir essa.

Indignada fiquei, mas depois me dei conta que “um cara preconceituoso” também foi “um cara sincero”. Como ele, tem muita gente que pensa desse modo mas que esconde isso. Acham que na Liberdade, Curuzu, Retiro, Cajazeiras ou qualquer outro em que Iptu seja um dos problemas que menos aflige a população, tudo é possível e passível de acontecer. E, que lá, ninguém pode reclamar. Mas reclamam; é que ninguém ouve.

Eu não moro na Pituba, moro em Simões Filho, mas especificamente na zona de conflito entre o Ponto de Parada e a Coroa da Lagoa. Os dois têm má fama, mas só a Coroa, onde moram mais pessoas pobres, é que tem o título de favela, como se o Ponto de Parada também não seja. Ninguém quer dizer que mora lá, muito embora o índice de violência no Ponto de Parada seja bem alto e ninguém seja rico – que eu saiba.

Ah, sobre barulho!

Assim como “um cara preconceituoso”, eu também já me irritei com som alto, porque era chato e eu queria ouvir o que diziam os atores da novela, apenas dormir ou ficar em casa em paz, de pernas para cima. Tarefas difíceis quando se tem como vizinho um terreiro de Candomblé super agitado. Mesmo quando o Pai de Santo, dono do terreiro virou crente, a mudança de opção religiosa não implicou em mudar o seu tom de voz e a casa continuou agitada. Os atabaques cederam espaço para “Aleluia!” e “ Glória Deus!”. “É verdade, irmão”, ele era uma cara de potência quando o assunto era voz.

E eu e meus vizinhos, que pagamos, quando pagamos, o IPTU num valor bem baixinho, não sabíamos o que fazer. Era ter paciência ou armar o barraco e ir todos para delegacia - tá ,eu iria para o Juizado de Menores. Graças a Deus, eu nunca fui apreendida e nem presa, nem meus vizinhos.

Mas mesmo que cá não seja a Pituba, também temos direito à paz. Há muito roubada e infelizmente não há especulação se um dia ela voltará. Nossos palhaços são calados aos gritos e os incomodados que se mudem.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Sem razões" para nós dois

* Título inspirado na poesia "Sem razões para o amor" de Carlos Drummond de Andrade.

Uma das razões para que eu esteja com ele é que eu gosto dele, claro, mas porque eu gosto eu já não sei responder. Eu gostaria de uma resposta para quando for necessário eu saber desgostar.

Algumas das razões para que nós estejamos juntos pode ser essa atração forte. Mas isso não justificaria a ternura sentida.

As razões para que sinta ternura seriam as juras de amor típicas dos casais, mas nós dois somos do presente, do instante. Há bem mais agora do que depois para nós dois.

Sabe aquela música de Caetano em que um dos versos diz assim: “eu tomo uma Coca Cola e ela pensa em casamento ( Alegria Alegria - 1967) ? Não nos serve. Eu não estou querendo um casamento, prefiro, por hora, a Coca Cola.

Tem milhões de coisas entre a gente que me parecem estranhas. Eu não sou bem uma seda e ele um jeans, mas é delicada a tentativa de combinação.

Nós dois gostamos das palavras, mas elas são engolidas na ânsia pelo outro. Qualquer letra de amor me comove.

Sem razões para que nós dois sejamos um: somos.
Sobre Jornalismo


Essa história de que só se aprende fazendo é bem verdade - quando aplicada ao jornalismo,então...

Comecei a escrever acreditando piamente que não tinha talento algum para o ofício. No entanto, eu descobri que treinar é bem mais eficiente que rezar por uma inspiração divina - conforme eu planejava. Os jornais também me ajudam muito,os textos do meu colegas me dizem como fazer e como não fazer.


A verdade é que escrevo matérias não muito complexas, nem sei se estou preparada para fazer algo que demande investigação profunda. Mas eu bem queria ser obrigada a fazer,para aprender, sabe? Vou fuçar algo assim.

Lá na redação!

Há quase um mês tudo mudou para mim no meu estágio.


Até dizem que eu era a queridinha do meu editor, Jair Fernandes, mas nem é de ser queridinha que eu sinto falta. Era muito bom trabalhar com alguém que eu admiro e que me admirava. Sim, eu me sentia valorizada. Jair, que me deu a oportunidade e acreditou em mim, saiu do jornal e agora eu me sinto pouco a vontade com o novo editor.


Meu novo desafio é me adaptar a isso. Meu desafio é mostrar para ele que eu sou boa o suficiente para o que quiser ser. Bem, antes eu tenho que provar isso para mim.


Com os meus colegas

Competição existe desde que tentamos existir - eu falo daquela disputa cinematográfica pela chegada ao óvulo. Eu bem queria conviver com todos em harmonia, mas quando você se sente menosprezada é um pouco difícil.

Hoje eu to sem inspiração divina, escrevo mais depois...

domingo, 21 de março de 2010

“Stand by me”

Das coisas que foram

Seria tão fácil se a felicidade não entrasse pela janela quando a porta se abre. Seria mais fácil se não despertasse o sorriso mais doce. Se não tornasse meu dia mais claro. Se o mundo não oferecesse um abraço toda vez que ele se faz presente.
Lembranças de um primeiro sentimento de ciúmes marcam o início de uma investigação interior. Dúvidas. Toda essa confusão desconserta. Pernas e braços atados. Fugas marcadas e coincidentes encontros.


Das coisas que estão

Ele quer ouvir uma declaração de amor, ela só sabe que precisa dele. Não sabe dizer se isso quer dizer amor; quer dizer querer; quer dizer gostar, ela não sabe o que isso quer dizer. Ela atropela as coisas como um trator inconsequente. Ele já não é mais paciente. Ele não entende sua ansiedade, sua pressa. Nem mesmo ela se entende. Desentendimentos e uma pausa para um contraditório silêncio que é finalizado com brigas. A essa altura ela duvida se precisa dele ainda. Resposta do coração: precisa. Resposta dele: não conte comigo.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Alguém cozinhando Mocotó?

Ela tá assistindo TV e chama toda família para ver o amor de sua vida: Eduardo Moscóvis. E diz pro filho e esposo, com tom de vergonha que de quem tá apaixonada: que o ama. Olhos atravessados e eles fingem que não ouviram.
Feliz porque estão todos em casa e ela vai dormir cedo hoje. E no fogão o miojo tem 10 minutos cozinhando. Ela pergunta: de quem é o mocotó que tá no fogo? Todo entendem a "piada" e um corre. "Sou eu, eu esqueci." E a briga pelo PC a aborrece, ela não tem paciência.

(Lá vem eu falar de novo do meu esmalte roxo "obsessão"...) Então eu cheguei com meu achado e chamei minha irmã pra ver. Quem tava na porta do quarto escondidinha de vergonha?"Eu posso ver, também?"Pode sim. Po r que no fundo ela pode tudo. É sempre a dona da cena, da graça e é claro da casa...minha mãe.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-ta, tic-t, tic, tic, tic, tic!!!!!!

Nunca acreditei em quem dizia que não fazia algo por falta de tempo. Sei lá, me parecia mentira e que se ajeitando bem, dava para fazer tudo. Tipo, ir na festa; no cinema; trabalhar; estudar; dormir bem; viajar; conversar com a vinhança; ligar para trocar altas ideias ou para falar que achou cor de esmalte que tanto queria (hoje eu fui nas lojas americanas e achei o roxo "obsessão", isso me inspirou); dar uma volta no Pituaçu de bicicleta; fazer academia; frequentar curso de idioma; namorar. Enfim, ter uma vida normal.
Eu adoraria dizer que estava certa, que as pessoas mentiam com esse lance de "falta de tempo". Mas eu agora rezo, imploro, peço a Deus (de joelhos), que as horas não corram. Tenho tanta coisa para fazer e falta tempo.
Não, eu não tenho filhos, trabalho e cuido da casa. Na verdade, até preciso dar uma arrumadinha no meu quarto (um furacão passou por lá). Filho, deixa esse assunto para daqui alguns anos. Bom, é que nessa pretensão de ser "jornaleira", eu tenho dois estágios e nem preciso dizer da faculdade (tá bom, tirando Itânia, aquilo tá um "mangue"). O meu trabalho me toma um tempão (eu fico lá mais que devia - voluntariamente). Mas eu tenho as atividades que têm que ser entregues. Leituras e etc.
Aliás, eu comprei agenda, caderno de anotações e bloquinhos. Vai ficar uma beleza, tudo organizadinho. Tô imaginando eu anotar o seguinte: dá um "oi" para Meire -minha vizinha que gosta de gospel, muito, muito, muito e bem alto. Outra anotação do futuro: dar um cheiro em minha irmã mais nova - ela é tão fofinha , apesar de querer não parecer. Viro mais uma página e tá lá escrito: dia de ligar para "a pessoa" (aquela lá, todo mundo tem "a pessoa" na vida - suspiro). Bem, eu vou indo e quando eu tiver tempo, volto aqui para escrever mais da minha vida louca.