quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

De Karina, formada em jornalismo, para Karina, segundo ano do Cefet.

Resolvi escrever esta carta, querida, porque eu sei que você vai ler, porque você sou eu, com algumas lições a passar.

A primeira coisa que eu tenho a te dizer é: você não é feia, menina. Pare de repetir isso. Você não precisa se esconder e nem se envergonhar de ninguém. E se eu fosse você mandava logo a sua foto para aquele seu amor-impossível, com quem você só conversa pelo telefone todos os dias. Eu te aviso: ele não vai gostar de você, primeiro porque ele já tem namorada e te esconde isso. Segundo porque não vai rolar mesmo...sabe como é, as coisas não são tão lógicas assim. Mas ainda assim, vale tentar exercitar a coragem. E ele está longe de ser a última Coca-Cola do deserto. Você vai conhecer coisa melhor.

Outra coisa: você vai se formar pela Ufba (Ó que legal, ó que bacana). Na dúvida entre física, fisioterapia, engenharia mecatrônica e jornalismo, no ano que vem você vai conhecer um curso que vai atrair os seus olhinhos castanhos escuros e vai tentar o vestibular para tal: é engenharia ambiental. Vai passar de prima na Federal. Mas você não vai aguentar a ideia de viver de cálculos a vida inteira. Quer pensar nas questões humanísticas e vai largar tudo, vai viver uns meses lá em Cruz das Almas e vai tentar vestibular para jornalismo. Não vai passar dessa vez. Você, que tanto resistiu, dessa vez vai ter que entrar em um cursinho. Aí tu passa e leva um ou dois amigos na bagagem. ;)

Vai entrar na faculdade de comunicação, vai achar tudo estranho na primeira semana. Na segunda, o beijo gay, a maconha a céu aberto, os professores falando de suas vidas sexuais em sala de aula e os colegas que falam dos países estrangeiros como se fosse Feira de Santana, não vão mais te assustar. Você nunca será como eles e nem vai tentar, mas será, em geral, bem-sucedida durante o curso.

Sua amigas com quem você anda agora, na maioria, vão realizar os sonhos que têm, mas vão estar distantes daqui uns anos. Acho importante informar que sua torcida por Ivna e Eudson vai dar certo. Eles vão se casar e você vai estar lá, numa cerimônia linda. Vivi por sinal vai se tornar uma amiga distante, tenha mais atenção com isso. Raquel também. Vanessa continuará firme e forte. Justine vai virar misssionária, pelo jeito, mas será uma amiga um tanto inacessível. E muitos dos carinhas que você acha gatinho, não serão em oito anos. Cervejas são vingativas.

Seu coração será surpreendido. Você vai se apaixonar por uma rasta e jornalista (o tipo de parceiro amoroso que você não queria) e se prepare ele vai te mostrar muitas coisas novas da vida e vocês terão muitos momentos de felicidades a dois, embora suas diferenças estejam sempre ali evidentes. Será uma história cheia de emoção, mas é só o que posso te contar. Estou me esforçando para não ter fim.

É isso Karina do segundo ano. Os anos que te esperam não serão fáceis até você se formar e estar construindo um relacionamento estável. Mas se fosse um pouco mais serena – é difícil, eu sei – seria mais fácil do que tem sido. Você não vai sair da faculdade com uma vaga no Jornal Nacional, mas estará confiante de que será estatística por pouco tempo. E você vai crescer, ampliar seus horizontes e se achar linda. Por tanto, vem comigo e relaxa, minha filha.

domingo, 5 de dezembro de 2010

A inocência das manhãs

Algumas pessoas preferem a noite, ao contrário, prefiro a o comecinho do dia. Essa aurora do hoje, sempre me atraiu muito. Gosto de ver as primeiras pessoas passando na rua. Ou mesmo, de ver a rua vazia, sem barulho, ao tempo em que já não está mais escuro. Gosto de ver os tons que se somam e se subtraem da mistura e separação entre dia e noite. As manhãs são mais bonitas.
Se o poeta Casemiro de Abreu compara a aurora com a infância, eu não vou discordar. Talvez por esse ar de pureza das manhãs que sempre parece prenunciar um dia bom, o que, infelizmente, nem sempre concretiza-se. Vejo nas manhãs, que agora não vejo, porque me dedico a escrever esse textinho em um quarto escuro, a inocência de quem não sabe o que virá, de quem calmamente vai deixar acontecer.
O amanhecer é um começo. Se o dia anterior foi doloroso, no amanhecer seguinte a dor pode estar mais tenra. Para mim, a coragem gosta das manhãs, pois elas parecem ter feito um pacto e uma precede a outra. Motivos não faltam pra gostar das manhãs. Para muito, o escuro que abraça os romances dá à noite o título de preferida dos casais. Porém, as manhãs são dos trabalhadores que saem de casa, das mães que acordam cedo para arrumar o lar, são de quem começa cedo a viver. Porque dormindo não sei se é um estado de iminência para a vida ou de iminente morte.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Enquanto posso.

Estou há três meses de encerrar o meu contrato do estágio na redação do jornal. Confesso: cheguei aqui mais otimista, porém mais burra. Não que uma coisa contrarie a outra. Nesses oito meses, conheci muita gente, de jeitos distintos para ver a realidade, com maneiras diferentes de levar a profissão. Porém, avalio que ainda não aprendi o suficiente, mas sei muito mais do fazer jornalístico do que imaginava. Oito meses de prática superaram os dois anos de teoria. É que, no jornalismo, sua avaliação é feita por personagens, fontes, editores, secretários de redação e, principalmente, por leitores.

No dia em que soube da aprovação para a vaga dei pulos de alegria. Não podia me conter. Em meus primeiros passos, ao trancos e barrancos houve muita imprecisão, faltava firmeza, mas estava movida pela vontade de crescer. E, um imenso movimento se deu desde fevereiro até aqui, outubro. Foi uma educadora que entrevistei, Mary Arapiraca, quem me moveu a pensar em processos como movimentos. Por isso chamo toda essa etapa de um mover. Cheguei aqui com duas lições importantes que daria a qualquer pessoas que botasse os pés numa redação pela primeira vez hoje: primeiro, as aspas podem salvar um jornalista e, segundo, ainda que fonte esteja maltratanto criancinhas, ou sendo relapsa nos cuidados, ela terá a cara de pau de procurar seu chefe para se defender por medo de uma matéria, que vai denunciar todo descompromisso dela com a profissão que escolheu.

Lições de uma foca


Quando se chega a uma redação de um jornal de grande circulação - digo, grande em tese, pequena a considerar o potencial número de leitores - vários mitos são desconstruídos. Você poderá se perguntar: cadê os velhos jornalistas? O cheiro de cigarro? As mulheres que abdicaram de serem mães e esposas?. Numa redação tem gente que conta piada boba, tem jornalista que tem que levar o filho ao médico. Tem gente de vinte poucos anos na edição.

No jornalismo há espaço para a diversidade e se não for assim, não é bom jornalismo. Não há espaço para obscuridade, nem mentiras, nem para imprecisões. O jornalismo é lugar em que a realidade recebe - ao menos eu penso assim - recorte exato, preciso, claro, direto, dinâmico, com comprovação. O jornalista precisa ser confiável e confiante. Precisa despertar para isso. Estou só no começo, há muito caminho para andar, há muita estrada a seguir, há muitas lições a serem compreendidas e há muita vida a ser vivida, lida e divulgada.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

É o que dá ouvir música boa...

Porque você apareceu e fez uma bagunça por aqui. Derrubou certezas e agora é dono de escombros de moralidades. Não tem o direito de ir embora do terreno, sem ajudar a ser reconstruída toda casa amarela de flores na cerca, quintal largo e cheiro de amaciante de roupas. Não tem o direito de não ver surgir o novo, se pelo velho já era apaixonado.

sábado, 25 de setembro de 2010

Aqui não é a Liberdade, não!

-Redação, Karina.
- Oi, eu sou “um cara preconceituoso”.
- Sim.
- Eu queria reclamar que na minha rua, na Pituba, uma empresa coloca um microfone bem alto na boca de um palhaço ...
- O que o senhor quis dizer com palhaço, exatamente?
- Um locutor … E , olha, Karina, ainda por cima ele bota pagode, parece que aqui é a Liberdade.
- Como assim, senhor?
- Essas músicas... de bairro bem ruim, entende?

Essa conversa entre eu e “um cara preconceituoso” que mora na Pituba e sabe que lá não é a Liberdade, se deu hoje (25 de setembro) pela manhã quando estava a trabalho e por isso mesmo não fiz a pergunta que ficou engolida: mas e daí? Ossos do ofício. Tive que engolir essa.

Indignada fiquei, mas depois me dei conta que “um cara preconceituoso” também foi “um cara sincero”. Como ele, tem muita gente que pensa desse modo mas que esconde isso. Acham que na Liberdade, Curuzu, Retiro, Cajazeiras ou qualquer outro em que Iptu seja um dos problemas que menos aflige a população, tudo é possível e passível de acontecer. E, que lá, ninguém pode reclamar. Mas reclamam; é que ninguém ouve.

Eu não moro na Pituba, moro em Simões Filho, mas especificamente na zona de conflito entre o Ponto de Parada e a Coroa da Lagoa. Os dois têm má fama, mas só a Coroa, onde moram mais pessoas pobres, é que tem o título de favela, como se o Ponto de Parada também não seja. Ninguém quer dizer que mora lá, muito embora o índice de violência no Ponto de Parada seja bem alto e ninguém seja rico – que eu saiba.

Ah, sobre barulho!

Assim como “um cara preconceituoso”, eu também já me irritei com som alto, porque era chato e eu queria ouvir o que diziam os atores da novela, apenas dormir ou ficar em casa em paz, de pernas para cima. Tarefas difíceis quando se tem como vizinho um terreiro de Candomblé super agitado. Mesmo quando o Pai de Santo, dono do terreiro virou crente, a mudança de opção religiosa não implicou em mudar o seu tom de voz e a casa continuou agitada. Os atabaques cederam espaço para “Aleluia!” e “ Glória Deus!”. “É verdade, irmão”, ele era uma cara de potência quando o assunto era voz.

E eu e meus vizinhos, que pagamos, quando pagamos, o IPTU num valor bem baixinho, não sabíamos o que fazer. Era ter paciência ou armar o barraco e ir todos para delegacia - tá ,eu iria para o Juizado de Menores. Graças a Deus, eu nunca fui apreendida e nem presa, nem meus vizinhos.

Mas mesmo que cá não seja a Pituba, também temos direito à paz. Há muito roubada e infelizmente não há especulação se um dia ela voltará. Nossos palhaços são calados aos gritos e os incomodados que se mudem.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Sem razões" para nós dois

* Título inspirado na poesia "Sem razões para o amor" de Carlos Drummond de Andrade.

Uma das razões para que eu esteja com ele é que eu gosto dele, claro, mas porque eu gosto eu já não sei responder. Eu gostaria de uma resposta para quando for necessário eu saber desgostar.

Algumas das razões para que nós estejamos juntos pode ser essa atração forte. Mas isso não justificaria a ternura sentida.

As razões para que sinta ternura seriam as juras de amor típicas dos casais, mas nós dois somos do presente, do instante. Há bem mais agora do que depois para nós dois.

Sabe aquela música de Caetano em que um dos versos diz assim: “eu tomo uma Coca Cola e ela pensa em casamento ( Alegria Alegria - 1967) ? Não nos serve. Eu não estou querendo um casamento, prefiro, por hora, a Coca Cola.

Tem milhões de coisas entre a gente que me parecem estranhas. Eu não sou bem uma seda e ele um jeans, mas é delicada a tentativa de combinação.

Nós dois gostamos das palavras, mas elas são engolidas na ânsia pelo outro. Qualquer letra de amor me comove.

Sem razões para que nós dois sejamos um: somos.
Sobre Jornalismo


Essa história de que só se aprende fazendo é bem verdade - quando aplicada ao jornalismo,então...

Comecei a escrever acreditando piamente que não tinha talento algum para o ofício. No entanto, eu descobri que treinar é bem mais eficiente que rezar por uma inspiração divina - conforme eu planejava. Os jornais também me ajudam muito,os textos do meu colegas me dizem como fazer e como não fazer.


A verdade é que escrevo matérias não muito complexas, nem sei se estou preparada para fazer algo que demande investigação profunda. Mas eu bem queria ser obrigada a fazer,para aprender, sabe? Vou fuçar algo assim.

Lá na redação!

Há quase um mês tudo mudou para mim no meu estágio.


Até dizem que eu era a queridinha do meu editor, Jair Fernandes, mas nem é de ser queridinha que eu sinto falta. Era muito bom trabalhar com alguém que eu admiro e que me admirava. Sim, eu me sentia valorizada. Jair, que me deu a oportunidade e acreditou em mim, saiu do jornal e agora eu me sinto pouco a vontade com o novo editor.


Meu novo desafio é me adaptar a isso. Meu desafio é mostrar para ele que eu sou boa o suficiente para o que quiser ser. Bem, antes eu tenho que provar isso para mim.


Com os meus colegas

Competição existe desde que tentamos existir - eu falo daquela disputa cinematográfica pela chegada ao óvulo. Eu bem queria conviver com todos em harmonia, mas quando você se sente menosprezada é um pouco difícil.

Hoje eu to sem inspiração divina, escrevo mais depois...