domingo, 5 de dezembro de 2010

A inocência das manhãs

Algumas pessoas preferem a noite, ao contrário, prefiro a o comecinho do dia. Essa aurora do hoje, sempre me atraiu muito. Gosto de ver as primeiras pessoas passando na rua. Ou mesmo, de ver a rua vazia, sem barulho, ao tempo em que já não está mais escuro. Gosto de ver os tons que se somam e se subtraem da mistura e separação entre dia e noite. As manhãs são mais bonitas.
Se o poeta Casemiro de Abreu compara a aurora com a infância, eu não vou discordar. Talvez por esse ar de pureza das manhãs que sempre parece prenunciar um dia bom, o que, infelizmente, nem sempre concretiza-se. Vejo nas manhãs, que agora não vejo, porque me dedico a escrever esse textinho em um quarto escuro, a inocência de quem não sabe o que virá, de quem calmamente vai deixar acontecer.
O amanhecer é um começo. Se o dia anterior foi doloroso, no amanhecer seguinte a dor pode estar mais tenra. Para mim, a coragem gosta das manhãs, pois elas parecem ter feito um pacto e uma precede a outra. Motivos não faltam pra gostar das manhãs. Para muito, o escuro que abraça os romances dá à noite o título de preferida dos casais. Porém, as manhãs são dos trabalhadores que saem de casa, das mães que acordam cedo para arrumar o lar, são de quem começa cedo a viver. Porque dormindo não sei se é um estado de iminência para a vida ou de iminente morte.