sábado, 25 de setembro de 2010

Aqui não é a Liberdade, não!

-Redação, Karina.
- Oi, eu sou “um cara preconceituoso”.
- Sim.
- Eu queria reclamar que na minha rua, na Pituba, uma empresa coloca um microfone bem alto na boca de um palhaço ...
- O que o senhor quis dizer com palhaço, exatamente?
- Um locutor … E , olha, Karina, ainda por cima ele bota pagode, parece que aqui é a Liberdade.
- Como assim, senhor?
- Essas músicas... de bairro bem ruim, entende?

Essa conversa entre eu e “um cara preconceituoso” que mora na Pituba e sabe que lá não é a Liberdade, se deu hoje (25 de setembro) pela manhã quando estava a trabalho e por isso mesmo não fiz a pergunta que ficou engolida: mas e daí? Ossos do ofício. Tive que engolir essa.

Indignada fiquei, mas depois me dei conta que “um cara preconceituoso” também foi “um cara sincero”. Como ele, tem muita gente que pensa desse modo mas que esconde isso. Acham que na Liberdade, Curuzu, Retiro, Cajazeiras ou qualquer outro em que Iptu seja um dos problemas que menos aflige a população, tudo é possível e passível de acontecer. E, que lá, ninguém pode reclamar. Mas reclamam; é que ninguém ouve.

Eu não moro na Pituba, moro em Simões Filho, mas especificamente na zona de conflito entre o Ponto de Parada e a Coroa da Lagoa. Os dois têm má fama, mas só a Coroa, onde moram mais pessoas pobres, é que tem o título de favela, como se o Ponto de Parada também não seja. Ninguém quer dizer que mora lá, muito embora o índice de violência no Ponto de Parada seja bem alto e ninguém seja rico – que eu saiba.

Ah, sobre barulho!

Assim como “um cara preconceituoso”, eu também já me irritei com som alto, porque era chato e eu queria ouvir o que diziam os atores da novela, apenas dormir ou ficar em casa em paz, de pernas para cima. Tarefas difíceis quando se tem como vizinho um terreiro de Candomblé super agitado. Mesmo quando o Pai de Santo, dono do terreiro virou crente, a mudança de opção religiosa não implicou em mudar o seu tom de voz e a casa continuou agitada. Os atabaques cederam espaço para “Aleluia!” e “ Glória Deus!”. “É verdade, irmão”, ele era uma cara de potência quando o assunto era voz.

E eu e meus vizinhos, que pagamos, quando pagamos, o IPTU num valor bem baixinho, não sabíamos o que fazer. Era ter paciência ou armar o barraco e ir todos para delegacia - tá ,eu iria para o Juizado de Menores. Graças a Deus, eu nunca fui apreendida e nem presa, nem meus vizinhos.

Mas mesmo que cá não seja a Pituba, também temos direito à paz. Há muito roubada e infelizmente não há especulação se um dia ela voltará. Nossos palhaços são calados aos gritos e os incomodados que se mudem.

Nenhum comentário: